sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Seminário dos Afrodescendentes do TO inicia neste sábado, 27


Imagem do cartaz
A I Feira de Economia Solidária e Seminário dos Afrodescendentes do Tocantins acontecem entre os dias 26 a 28 de outubro, no Centro Cultural Durval Godinho, em Porto Nacional.

O evento reunirá representantes de organizações que atuam pela garantia dos direitos das comunidades quilombolas e dos afrodescendentes no Estado e tem como objetivo propor ações de combate ao racismo, fortalecimento da Lei 10.639 no Tocantins, fortalecimento da economia solidária nas comunidades quilombolas e luta pela regulamentação das terras quilombolas no Estado.

A abertura do Seminário e da Feira acontece na noite desta sexta-feira, 26. No sábado, 27, às 8 horas, o evento iniciar com um painel sobre racismo e preconceito religioso no Estado. Às 14 horas, os participantes debatem a aplicação no Tocantins da Lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.

O 3º painel acontece às 16 horas e discute Economia solidária: análise sobre a economia solidária nas comunidades quilombolas do Tocantins. A programação do dia encerra às 19 horas com apresentações culturais e feira.

No domingo, 28, às 8 horas, o último painel debate sobre a identificação, regularização e desenvolvimento dos territórios quilombolas.

O evento é realizado pela Comsaúde - Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação, Gruconto – Grupo Consciência Negra do Tocantins, Rede de Educação Cidadã e com apoio do Fórum Estadual de Economia Solidária, Cese – Centro de Formação de Ensino e Economia Solidária – Região Norte, Fundação Ford e Alternativas para a Pequena Agricultura do Tocantins (Apato).

Confira a programação:

26/10 – sexta-feira
19h - Abertura e Feira de Economia Solidária

27/10 - sábado
 
8h - Mística de abertura

1º Painel: O racismo e o preconceito religioso no Estado do Tocantins. Gruconto, CONAQ, Cedenpa e Comunidades de Terreiros.

14h - 2º painel: Aplicabilidade da Lei 10.639 nas escolas públicas e nas escolas das comunidades quilombolas no Estado do Tocantins e as cotas na universidade. Gruconto, Fórum Estadual de Educação Afro-brasileira, Maximiano Bezerra, diretor de diversidade da Seduc e UFT.

16h - 3º painel: Economia solidária: análise sobre a economia solidária nas comunidades quilombolas do Tocantins. Fórum Regional Centro Sul Tocantins.

19h
- Feira de produtos afro-brasileiros e apresentações culturais

28/10 – Domingo

8h - 4º Painel: Identificação, regularização e desenvolvimento dos territórios quilombolas. Izabel Rodrigues, representante regional da Conaq e José Carlos Galiza, representante nacional da CONAQ.

 Avaliação do Encontro

12h Encerramento

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Contrapondo o ridículo


Hoje tive uma sensação bem esquisita, um mix de orgulho, de tristeza, de revolta o que acabou me deixando inquieta, e o que fazer pra me acalmar ?! Escrever.
 
Eu dedico este texto ao professor Pierre Lucena, do blog Acerto de Contas, que escreveu O ridículo salta aos olhos.

Professor foi seu texto O ridículo salta aos olhos, o responsável por tantas emoções. Ler é realmente algo mágico, mexe com a gente. E seu texto mexeu muito comigo. Fiquei pensando, como pode existir tanta ingenuidade e tanta inocência nas reflexões de alguém com um nível de graduação como o seu. 

Não aceito, desculpe, mas não aceito que o senhor realmente acredite que o comercial da Marisa - que incitou a manifestação - ‘não tem absolutamente nada de mais’. Ou que seja ‘ algo totalmente dentro do cotidiano’. Violência, corrupção, drogas, maus tratos, infelizmente fazem parte do cotidiano de nossa sociedade. E desculpe discordar, mas vejo algo de mais, aliás vejo muita coisa de mais. A ignorância é de mais, o silêncio é de mais, a impunidade é de mais, e a lista é grande. Uma pena que não veja nada de mais dentro deste tsunami de delírios consumistas que invadem o consciente de nossa sociedade. 

Como professor universitário (universidade vem de universo), o senhor é alguém que tem a honra de ocupar uma posição favorável ao desenvolvimento de debates reflexivos, aprofundados e sobre tudo, bem argumentados no intuito de incitar, não só seus alunos, mas seus leitores, à manterem uma discussão inteligente e bem embasada. Mas que tristeza em perceber que um professor de universidade ousa divulgar um texto de tamanha pobreza.

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Já está na hora do povo brasileiro exorcizar este discurso de que política, religião, futebol e gosto não se discutem. É uma das frases mais descabidas que ja ouvi. Como assim gosto não se discute ?

Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu o julgamento do gosto resulta de forma variante, de acordo com status social, nível cultural (e aqui eu falo de cultura cultivada), origem cultura e econômica do individuo. Então o senhor vem declarar que ‘tudo isso por causa de um comercial onde uma mulher bonita passa e chama a atenção dos homens, como se isso não acontecesse nas ruas’. Não coloco em causa, de forma alguma o fato de uma mulher bonita chamar atenção, não só de homens, mas como de mulheres também, mas o conceito de beleza padronizado tal que conhecemos hoje em dia, quem elegeu?

Aí, como se já não bastasse introduz, duas linhas de pensamentos: a ditadura do politicamente correto, e do pensamento único concluindo de forma descontextualizada e incorente, uma vez que seu texto termina com a seguinte frase : ‘Vejam o comercial a baixo e digam se não tenho razão’.

Professor eu vi e revi o comercial e lhe digo, o senhor não tem somente razão, mas razões de pensar desta forma. Assim como as mulheres da Casa 8 Março tem as razões delas também. Não se trata de ser ou não ser o dono da verdade, a verdade, assim como o pensamento e razão não são únicos.

Agora taxar de ridículo uma manifestação é um ato de desrespeito contra a sociedade, contra os direitos humanos, contra toda a história mundial. Quantas revoluções foram necessárias para podermos ter direito de se manifestar?! Milhares e milhares. Umas mais e outras menos conhecidas. Só para citar algumas : Revolucão Francesa, Revolução Americana, Revolução Chinesa, Russa... E as nacionais? Inconfidência Mineira, Revolução Pernambucana, Farroupilha, Cabanagem... A lista é longa professor. Quantas pessoas lutaram para que pudessemos gozar deste direito? E quantas destas pessoas pagaram com o próprio sangue por isto? Um protesto, senhor professor, que tem como objetivo alertar pessoas contra as ameaças da ditadura da moda, da padronização de beleza, da indústria cultural, da coisificação do corpo, não pode ser taxado de ridículo.

Ridículo, segundo a definição que encotrei no dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, quer dizer : ‘Quem provoca riso; escarmos ; grotesco; zombeteiro; insignificante; que tem pouco valor’.

Sinceramente, não tive vontade de rir quando li uma matéria sobre a manifestação. Também não acredito que possa ser considerada como grotesca ou zombetaire, tão pouco como algo insignificante, visto o numero de comentários que este poste lhe rendeu.

Mas o que este comercial tem haver com machismo?

Machismo é o nome dado à ideologia a qual o homem domina socialmente a mulher. E o feminismo  é a corrente que luta contra este tipo de dominação, tendo como preceito a igualdade de direitos entre os sexos.

De acordo com o estudos aplicados à Sociologia do Corpo, um ramo recente da sociologia que tem como objeto geral de estudo as representações sociais do corpo humano e as relações sociais que envolvem estas representações, o corpo não representa somente uma unidade orgânica, biológica, o corpo é resultado também de uma unidade de representação cultural, social e econômica. E embora a sociologia do corpo - como denominação seja algo recente, já no começo do século XVII René Descartes declarou ‘é mais facil falar sobre a mente do que lidar com o corpo humano’. Ele já fazia alusões à cultura. No século seguinte, estudos de Marcel Mauss, considerado um dos pais da antroplogia já trabalhava em cima de algumas pistas em relação às formas de dominação e o corpo.

Karl Marx formulou a ideia de base sociológica de que ‘o corpo não é somente o resultado direto e indireto involuntário de relações sociais, mas o alvo de um sistema de modelagem’. Um século mais tarde Michel Foucault declara que ‘o corpo é o objeto de um sistema organizado voltado para moldar poderes não centralizados’. Em suma, Foucault denunciava a existência de um sistema de social que ele demoninou de biopoder. Com a ajuda de dispositivos como o panoptico, o poder eminente do Estado domina o corpo e constrói os indivíduos. Foucault lutou de maneira subjetiva contra a subjulgação humana através do corpo, como podemos constatar em seus trabalhos sobre micropoder.

No século XX, o corpo humano já era observado como um produto de consumação por algumas categorias da sociedade. Esta triste constatação deixa de ser discutida apenas em meios acadêmicos. Este pensamento foi desenvolvido pela sociologia econômica, também chama de sociologia da consumação. Esta nova vertente tinha como objeto geral de pesquisa o consumo em todas as suas formas e estudos específicos sobre psicologia social, comportamento do cliente em ambientes comerciais.

E no que diz respeito à sociologia do corpo, sua premissa maior é a ideia de que o corpo é alvo da consumação. Quem tiver interesse em ler algo mais sobre a sociologia do corpo, Jean Baudrillard é uma referência contemporânea neste assunto. Os estudos da socioigia do corpo são acompanhados de perto por muitos profissionais da sociologia da alimentação também.

Vivemos em uma sociedade onde é a midia quem dita os padrões de beleza, e as mulheres, desde a mais nova idade, são as maiores vítimas. Na Europa é cada mais comum ver casos de anorexia em meninas entre 6 e 12 anos. Uma realidade que vai contra a epidemia da obesidade na qual tem sofrido os países em forte desenvolvimento.

A sociologia do corpo se alimenta, assim como a sociologia da moda, e a sociologia do nu, em estudos antropológicos, comunicacionais, filosóficos, econômicos, psicológicos, educacionais, em fim a convergência disciplinar é ampla e engloba grandes problemas da sociedade atual. Estudos feitos por David Le Breton demonstram que em certos casos esta busca pela corpo perfeito pode levar à auto-multilação e à escarificação.

Relanço então professor o debate.

Luciana Berthod, jornalista e socióloga.


 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Não é só o comercial da Marisa

O NÃO que ontem, dia 21 de outubro, manifestamos ao comercial da Marisa não foi apenas contra a essa propaganda. É preciso ter a sensibilidade para compreender que este NÃO foi muito maior à propaganda em si.

“A Empresa Marisa já há vários anos desenvolve a campanha ‘De mulher para mulher, Marisa’ fazendo propaganda de suas roupas, muitas vezes colocando modelos masculinos para fazer caras e bocas diante dos corpos magros das modelos femininas. Dessa vez ela está com uma campanha no ar, veiculada nacionalmente, em que a modelo agradece a todos aqueles que a ajudaram a ficar com tudo em cima (isto é, magérrima) para pode usar as roupas do verão - Marisa, que a ajudaram a emagrecer, a ficar "dentro do padrão" imposto pela sociedade machista e consumista. Aí, nós peguntamos: isso é mesmo de mulher para mulher?

Quando nós quatro nos reunimos, estrategicamente e sem fazer alarde, em frente à loja Marisa, em Palmas, nós não queríamos dizer um basta apenas a este comercial, mas a todos os outros e a todas as outras formas que a mídia utiliza para dizer como nós, mulheres, devemos nos portar, qual o número que temos que vestir e qual o padrão de beleza temos que seguir.
“É claro que trata-se de uma grande campanha elaborada e veiculada pela mídia machista e reducionista, preconceituosa e discriminadora que leva adiante os conceitos mais primitivos da sociedade capitalista, que desrespeita direitos humanos, que viola a dignidade de todas as mulheres e que amplia as diferenças entre homens e mulheres e mulheres e mulheres.”

Não, não foi uma campanha ou uma manifestação de ódio, em nenhum momento gritamos, esbravejamos, apenas conversávamos com quem chegava curioso para nos questionar o motivo. E pra nossa surpresa e satisfação, a maioria das pessoas que nos abordaram saíram convencidas de que nosso ato tinha e tem fundamento.
Não é só o comercial da Marisa, é o da Coca, da Fiat, é a novela, é o comercial da cerveja, dos produtos de limpeza, entre tantos outros. E a todos eles nós dizemos NÃO. Ora tratadas como objetos de desejo, ora tratadas como objeto de consumo. Basta! E isso não é discurso radical, é social e é só um alerta.

“O Movimento feminista do Brasil inteiro tem se posicionado perante essas campanhas, fazendo o controle social da imagem da mulher na mídia.”
fotos: Tàcio Pimenta
Muitas pessoas, e infelizmente muitas mulheres, não compreendem ainda que nós precisamos romper com esse modelo de ‘mulher ideal’ que nos é imposto a todo o momento. E estar inserida e ser aceita numa sociedade vai além da cor da pele, do formato do corpo, da marca do carro, da numeração da roupa. Nós mulheres, somos diversas e precisamos ser respeitadas e é pela diversidade que eu digo SIM.

A repercussão desse ato tem sido grandiosa e grandiosos serão os resultados, porque nós, mulheres, podemos transformar o mundo.
(citações de Bernadete Aparecida Ferreira, presidenta da Casa 8 de Março - Organização Feminista do Tocantins)
Leia também:
Todas as mulheres, em sua diversidade, têm o seu valor da jornalista Rose Dayanne Santana.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

E com você?

O que me importa é chegar em casa após um dia de trabalho, receber meu salário, pagar as contas e recomeçar o ciclo.

Imagem copiada da Internet, mas essa é a famosa Mafalda do Quino
Que se danem os vizinhos, a mulher que apanha do marido, o gay espancado, o índio torturado... o que me importa é chegar em casa;

Que se danem as crianças na rua, os adolescentes violentados, as prostitutas em suas esquinas, o excesso de riqueza nas mãos de poucos... o que me importa é chegar em casa;

Que se danem os negros que ainda sofrem com as desigualdades fruto de um passado de escravidão, as mulheres que lutam pela liberdade de seus corpos e igualdade, as crianças do campo que não possuem educação de qualidade... o que me importa é chegar em casa;

Que se danem os direitos humanos, esses jovens que morrem todos os dias vitimas de violência racial e/ou policial, os juros exorbitantes, a política comercial... o que me importa é chegar em casa;

Que se danem a exploração desenfreada dos recursos naturais, os que lutam, o excesso de agrotóxicos que nos alimenta... o que me importa é chegar em casa;

Que se danem os que rezam, que pedem, os que choram, proclamam, declamam... o que me importa é chegar em casa;

O que me importa é que... que te importa?

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Da infância

Internet
A estratégia é o seguinte, depois do almoço, na hora da soneca dele, eu pego uns e você me espera do lado de fora, jogo pela janela e nos encontramos com os outros no riacho, de lá partimos pra chapada ou pras terras do japonês. Combinado? Ah, não esquece da chinela, se não se queima na areia.

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Depois do almoço o combinado estava feito. A turma então saia pela mata, entrar nas terras do vizinho e literalmente 'cagar em seu mato' era sinônimo de aventura. Colher alguns frutos silvestres no caminho também era uma das atividades. Depois de um dia de caminhada sob o sol, eles paravam na roça e comiam tudo que viam pela frente, tinha de tudo no quintal: maracujá, buriti, manga, goiaba, cana, siriguela, cajá, tamarindo, cajú, e ata. Depois pulavam no riacho, mas tudo muito rápido, já era fim de tarde e o 'sucruiú' ou sucuri não era figura bem vinda.

Quando a noite chegava, se não era dia de reza, criança dormia cedo com as bençãos de todos. As conversas era proibidas e logo o sono tinha que chegar, caso contrário quem chegava era o caboré – o tal bicho do mato que pegava crianças que não dormiam cedo.

Essa era a mesma imagem que tinha na casa dos avós/Internet
O dia raiava com o cantar do galo, dos passarinhos, o cheiro do café e dos bolinhos (já falamos desse cheirinho por aqui). Era dia de São Lázaro, logo após o café, as mulheres se dedicavam nas atividades da cozinha, as crianças na limpeza do terreiro e os homens, bom, alguns na cachaça. Os convidados começavam a chegar. Na sala uma toalha de mesa forrava o chão, sete pratos, para sete cachorros. A festa era uma promessa. E assim festejavam o Santo. As cantigas, as rezas tudo cronologicamente no seu tempo e obedecendo o compromisso divino.

Terminada a festa, organizavam seus pertences e partiam de volta pra cidade e rotina.

Antes a mãe perguntava: - Papai some aí os geladinhos que meus meninos pegaram! E o vô Joaquinzim dizia manso: Que eu somei foi tanto, mas que eles pegaram aí e saíram correndo eu nem sei, perdi as contas!