domingo, 18 de dezembro de 2011

A vida a passar

Não sei se compartilho muito ou pouco das experiências profissionais nesses espaços mais públicos. O fato é que, como assessora de imprensa, acompanhei - ao longo deste ano - meu chefe em centenas de reuniões em projetos de assentamentos.  Vi e ouvi muitas coisas e histórias. Tristes, alegres, motivadores, desesperadoras, um mix de emoções e sensações. Mas quero compartilhar uma em especial que vivenciei no dia 17 de dezembro. E é esta que me levam a escrever neste blog que anda - coitadinho - meio abandonado. 

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Sábado, 17 de dezembro de 2011, 11 horas, Araguaína, região Norte do Tocantins, Projeto de Assentamento Paraíso. Após a primeira reunião do dia, sabíamos que alguém nos esperaria na estrada. Avistamos um senhor  e paramos. Ele se identificou: José Honório, presidente da Associação. Com dificuldades para entrar no carro, nos contou que tem apenas 5% da visão - uma espécie de atrofia ocular. 

José caminhou mais de 5 km para nos esperar. Como chegou lá sozinho? Ele disse que guarda na memória, na lembrança, a imagem do percurso e no caminho ele dizia: à direita é Casa de Fulano, à esquerda é casa de Ciclano...assim, até chegarmos em sua casa

Enquanto ele falava e descrevia o caminho, eu ficava contemplando tudo e agradecendo a Deus pela minha visão, um pouco egoísta eu sei, mas foi preciso pra poder enxergar além. Já em sua casa, José Honório transitava com perfeição. Junto com a mulher e os filhos mantem uma criação de caprinos, galinhas, cultiva hortas e demais alimentos pro sustento. A mulher, todos os dias, caminha mais de 3 km para chegar  à estrada que dá acesso ao transporte coletivo que leva o filho até a escola.

Por que estou contando isso? Porque esse episódio foi importante para repensar minha conduta: 'Ei, acorda, você tem uma certa comodidade na sua vida, então pare de reclamar, pare de querer alcançar tanto e correr tanto porque a vida as vezes caminha em slow e ela não tem que te oferecer tudo ao tempo em que acha justo'. Isso me diz que quando eu estiver a reclamar, lamentar, tenho que pensar na vida das pessoas que estão em situações  limitadas. E compreender que posso, por meio desta experiência, melhorar minha conduta com a vida, me anima.