sexta-feira, 20 de maio de 2011

As lembranças na casa da BR 010

Imagem do filme "o Fabuloso Destino de Amelie Poulain"

As lembranças. Ah, as lembranças, quem não as tem? E as lembranças da infância são talvez as que nos marcam pra todo sempre.

Na casa da BR 010 me fiz criança, menina.

Festejei São Lázaro. Comemorei as bodas de ouro dos avós. Me batizei. Corri pelos campos. Subi arvores. Caí de arvores. Tentei mudar o curso do rio. 

Ali também vi o desespero da mãe que perde o filho, dos filhos que perdem os pais, dos netos que perdem os avós. E chorei as perdas, como chorei. Aprendi a perder desde pequena, mas aprendi a ganhar também.

Na casa da BR 010 roubei geladinhos, fiz expedições na chapada, roubei mangas das terras do vizinho e também tive medo do vizinho, o Japonês.

Dormi cedo com medo do caboré. Acordei com o cheiro de bolo. Mergulhei no brejo. Fui picada por maribondos. Contava os carros que passavam na BR. Namorei.

Na casa da BR 010 eu gritava, sorria, chorava e rezava. Corria atrás das galinhas. Caçava sapinos no brejo. Dividia comida com os primos. Moia cana. Ia pra missa aos domingos.

Hoje, a Casa da BR esta vazia, quase silenciosa e nostálgica. Fecho os olhos, viajo no tempo, a vejo debruçada na janela e ele sentado na cadeira, ambos observando o intenso movimento. Fazem falta.

É aí, nestas lembranças, que revisito meu passado, repenso o presente e planejo o futuro. Eis meu refúgio: a casa da BR 010. O endereço, bem ali no Maranhão, na BR que liga Belém a Brasília. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Deputados do Tocantins assinam manifesto em defesa do Diploma de Jornalista

Nove deputados estaduais que estavam na manhã desta quarta-feira, 17, na sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Tocantins,  assinaram o manifesto em defesa da exigência do diploma de jornalista para exercício da profissão.

Amália Santana (PT), Eli Borges (PMDB), Josi Nunes (PMDB), Luana Ribeiro (PR), Marcello Lelis (PV), Osires Damaso (DEM), Raimundo Palito (PP), Toinho Andrade (ex-DEM) e  Zé Roberto (PT) assinaram o manifesto pela votação imediata das PEC's (Propostas de Emendas à Constituição) 33/2009 e 386/2009.

Ao contrário dos nove colegas de parlamento, o deputado estadual Freire Júnior (PSDB) disse que não assinaria o manifesto, porque não concorda com a exigência do diploma, que segundo ele configura como reserva de trabalho, a mesma coisa de quererem regulamentar a profissão de mototaxistas, entre outras.

O manifesto circulou no início da manhã e contou ainda com a assinatura de profissionais da imprensa e assessores parlamentares.

PEC's
A PEC 33/2009 de autoria do senador Antonio Carlos Valadares e outros, tramita no Senado e acrescenta o art. 220-A "à Constituição Federal, para dispor sobre a exigência do diploma de curso superior de comunicação social, habilitação jornalismo, para o exercício da profissão de jornalista.

Já a PEC  386/2009 de autoria do deputado federal Paulo Pimenta (PT), tramita na Câmara Federal, estabelece a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão de Jornalista.


No Senado
Os três senadores do Tocantins, João Ribeiro (PR), Kátia Abreu (ex-DEM) e Vicentinho Alves (PR), já se manifestaram a favor do diploma. Veja placar de quem apoia no site da FENAJ

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O apito nosso de todos os dias - Dia Nacional de Denúncias Contra o Racismo

Palmas, Tocantins, 12 de maio de 2011, véspera do Dia Nacional de Denúncias Contra o Racismo. Um jovem, negro, alto, de roupas largas, está na fila aguardando o banco abrir. Às 11 horas o banco abre e a movimentação começa.
Marcos coloca o celular e as chaves no local designado, assim como os demais, e entra na porta giratória que trava. Retorna, os seguranças do banco perguntam se ele possui algum objeto de metal, diante da negativa, Marcos retorna à porta que trava novamente. Os seguranças solicitam que retire o boné e os óculos. A porta trava mais uma vez.
Marcos Antônio
Enquanto isso, os demais clientes do banco continuam passando. Marcos retorna aos seguranças, retira o relógio e a aliança de noivado. A porta trava novamente. Desta vez, os seguranças pedem para ver o tênis as meias. Marcos aceita, levanta a calça, abre o tênis, a meia e segue mais uma vez para a porta que trava pela quinta vez. Marcos levanta a camisa e pergunta se precisa tirar a roupa para ter o direito de entrar no Banco. Os seguranças permitem sua entrada.
O jovem procura a gerente e essa explica que o episódio, que durou de 5 a 10 minutos deve ter ocorrido por algum problema na porta, mas ressaltou que a tal ‘revista’ faz parte da segurança do banco, que possui um sistema muito rigoroso para beneficiar o próprio cliente.
Esse episódio no Banco Santander não é um fato isolado, centenas de jovens negros passam por este cerceamento diariamente. O preconceito, o racismo e a discriminação existem e devemos parar de pensar e aceitar que situações como essas são comuns.
O apito que ouvimos todos os dias em todos os lugares é retrato de um país que esconde e finge não ser racista e preconceituoso. Retrato de um país que ainda trata o negro como alguém inferior, com indiferença e discriminação.
No dia 13 de maio, data da abolição formal da escravatura e dia Nacional de Denúncias Contra o Racismo, Marcos Antônio Silva, que é rapper e membro da Coordenação Nacional de Juventude Negra, decidiu silenciar o apito e registrou um Boletim de Ocorrências na Polícia Civil contra o Banco Santander por discriminação e preconceito.
De acordo com o Art. 1º da Lei Nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,“serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceitos de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Que assim seja!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Padre Josimo, presente!

Copiei o título de um texto do site do MST que relembra a vida de Padre Josimo Tavares, mártir da luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, mártir do povo.

Josimo foi assassinado em 10 de maio de 1986, aos 33 anos. Um mês antes de sua morte e consciente do risco que corria deixou o seguinte testamento:

Tenho que assumir. Estou empenhado na luta pela causa dos lavradores indefesos, povo oprimido nas garras do latifúndio. Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará em seu favor?
Eu, pelo menos, nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos, riqueza...
Só tenho pena de uma coisa: de minha mãe, que só tem a mim e ninguém mais por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidam dela.
Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma causa justa.
Agora, quero que vocês entendam o seguinte: tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas conseqüências.
A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar”.

Mesmo 25 anos depois, Josimo continua vivo, sua memória e luta seguirão para sempre com aqueles que acreditam e que também lutam por uma sociedade mais igualitária, mais justa e democrática.


Padre Josimo, sempre presente!

*Leia a Carta elaborada durante a Semana da Terra Padre Josimo que aconteceu em Augustinópolis, região do Bico do Papagaio, Tocantins, nos dias 6 e 7 de maio de 2011.